Das Moreninhas para o mundo: influencer de Campo Grande viraliza com conteúdo autêntico sobre a periferia
30/09/2024
Com vídeos que retratam a vida real, Glória Maria alcançou grandes conquistas e agora vai ministrar palestra em São Paulo, compartilhando suas experiências marcantes. Das Moreninhas para o mundo: influencer de Campo Grande viraliza com conteúdo autêntico
Uma jovem de 25 anos de Campo Grande, que começou a compartilhar sua rotina na internet apenas para passar o tempo e socializar durante a pandemia, hoje realiza sonhos e influencia muita gente. Com conteúdo autêntico, sem luxo, Glória Maria mostra a vida “de gente como a gente”, que ainda pega ônibus e se maravilha com a primeira viagem de avião ou helicóptero. A influenciadora digital vai ministrar uma oficina em São Paulo para ensinar outros jovens que é possível produzir conteúdo na internet, sem deixar de lado as raízes.
Início
Antes da pandemia, Glória morava com seus pais e estudava jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Com a chegada das restrições, decidiu morar sozinha, apesar das dificuldades financeiras.
Alugou uma casa e passou a fazer freelances para se sustentar. "Eu recebia muito pouco", lembra. Para dividir as despesas, seu namorado também foi morar com ela. Nos fins de semana, Glória trabalhava em uma churrascaria. Durante a semana fazia estágio, ganhando uma bolsa de R$ 600.
Sentindo a necessidade de se conectar com outras pessoas, Glória começou a compartilhar sua rotina no TikTok. "Eu postava minha rotina, receitas, hidratação do cabelo, tudo que eu fazia na minha casa", conta.
Glória Maria começou a postar sua rotina no Tik Tok
Glória Maria/Arquivo Pessoal
Em um dos vídeos, Glória mostra sua rotina na churrascaria, sempre com um toque de humor: "Eu sempre começo limpando o salão e aqui as pessoas respeitam quem está lavando o chão", brinca. Ela descreve o dia a dia no trabalho, a interação com os colegas e até o desafio de limpar um vidro. "Esse vidro preto tem sido o meu vilão lá no meu freelancer", comenta.
Outro vídeo popular foi sua visita ao Bioparque Pantanal, em Campo Grande. "Eu ainda estou vivendo os dias de luta e hoje fui conhecer o maior aquário de água doce do mundo", comenta.
Ela descreve o local com humor, destacando a arquitetura e as diversas espécies de peixes. "Como assim tem água em cima da minha cabeça e não tá me molhando?", questiona, maravilhada com o túnel de vidro.
Vídeos virais
Aos poucos, seus vídeos começaram a viralizar e a monetizar também. "Meu primeiro pagamento foi de 300 dólares. Fiquei impressionada", relembra.
O sucesso nas redes sociais permitiu que Glória transformasse seu hobby em trabalho. Além de falar sobre sua rotina, ela começou a criar conteúdo focado em utilidade pública para sua comunidade no bairro Moreninhas, onde mora até hoje.
Eu gostava muito de falar do bairro. É um bairro que tem muitas coisas", explica.
"Eu queria poder usar minha voz para levar oportunidades para eles", diz Glória Maria
Glória Maria/Arquivo Pessoal
Dicas e orientações relevantes também passaram a fazer parte do conteúdo compartilhado por ela. "Eu queria poder usar minha voz para levar oportunidades para eles", afirma. Assim, ela passou a divulgar vagas de emprego, cursos e serviços gratuitos, sempre com foco em ajudar os moradores de seu bairro.
Um dos marcos da trajetória foi a criação do bordão "Meu nome é Glória, mas eu ainda estou vivendo os dias de luta", que surgiu após uma sugestão de seguidora, baseada em uma música do Chorão, antigo vocalista da banda Charlie Brown Junior, que cantava: “Histórias, nossas histórias. Dias de luta, dias de glória”.
O bordão caiu no gosto popular e ajudou a consolidar sua identidade na plataforma. "As pessoas começaram a me reconhecer nos lugares, iam na churrascaria para me ver, tirar foto", relata.
Por meio dos vídeos, ela conseguiu viajar de helicóptero para conhecer o trabalho do Exército, participar de um evento no TikTok em São Paulo e agora, Glória se prepara para um novo desafio: ministrar a oficina "Conteúdo Digital e Identidade Cultural: Fortalecendo a Juventude Marginalizada" em um evento em São Paulo.
Influenciadora real
Glória Maria seria a "influenciadora real"
Glória Maria/Arquivo Pessoal
“Eu confesso que o convite me surpreendeu muito e continua me surpreendendo, principalmente pela forma como tudo começou, né? Eu comecei de um jeito muito simples, a minha linguagem nas redes sociais é uma linguagem muito simples. Se você vê o vídeo que eu falo do Bioparque Pantanal, foi um dos vídeos que eu mais levei hate, porque eu falava, 'ah, esse trem, essa coisa, que não sei o quê, nós'. E não é um jeito que eu estava querendo ofender o Bioparque Pantanal, chamando ele de trem ou de coisa, né? Eu venho de uma família muito simples que a gente fala assim, é uma linguagem muito informal e eu levo isso para as redes sociais. Eu gosto de falar da minha comunidade, eu gosto de falar de onde eu vim, eu gosto de falar que eu quero vencer na vida, porque não é porque eu venho de um bairro muito simples, não é porque eu venho de uma realidade difícil, não é porque eu vim de uma família que não tem condições financeiras que eu não quero vencer na vida, muito pelo contrário".
A influencer sul-mato-grossense vai participar do 4º Fórum Nacional Sesc de Juventudes do LABmais. O evento acontece de 1 a 3 de outubro, em São Paulo, e contará com a participação de jovens integrantes do projeto LABmais de várias regiões do país.
“Nesta oficina, vou capacitar jovens de comunidades marginalizadas a utilizar plataformas digitais, como Instagram e TikTok, para expressar suas identidades culturais e fortalecer a resiliência comunitária. Quero mostrar a força e a diversidade que os moradores do bairro têm, promovendo um senso de pertencimento e orgulho”, explica Glória.
A intenção dela é que outros jovens vivam experiências semelhantes às dela. “A internet me mostrou que é possível realizar sonhos. Não é porque você não está nos melhores dos mundos (casa chique, rotina legal, comidas gostosas) que você não terá nada para mostrar no mundo digital. Muito pelo contrário, cada um mostra o melhor que tem. O meu melhor foi o bairro onde eu estava, foi o desejo de querer vencer na vida, dar orgulho para os meus pais. Costumo dizer que quando uma pessoa da periferia vence, toda a comunidade vence junto. Outro ponto muito importante é preservar a identidade e mostrar a cultura que nós temos. Inclusive, os próprios Racionais cantam: ‘O dinheiro tira um homem da miséria, mas não pode arrancar de dentro dele a favela’. O lance é vencer na vida e levar a galera junto.”, finaliza.
Veja vídeos de Mato Grosso do Sul: